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segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Olhos de Lobo: último trecho inédito do ano!


          Hector levantou-se, tateando ao redor.
          Acordara em um quintal tomado pelo mato, protegido pela sombra de um muro. Diante dele, a tênue claridade da aurora revelava um casarão antigo e abandonado, daqueles caindo aos pedaços que bravamente resistem contra a ação do tempo.
          Conhecia o casarão. Localizava-se numa rua paralela à de seu prédio. 
          Mas... como podia estar em São Paulo se na noite anterior participara do lançamento de um livro seu em Curitiba?
          "Eu não poderia ter chegado aqui tão depressa. A não ser..."
          O desespero cresceu em seu peito, o raciocínio mostrou-lhe o óbvio e Hector resistiu em acreditar.
          "Não sou mais um lobisomem... Não mesmo! Eu... eu me curei!"
          Porém estava ali, sem roupas, óculos, carteira, celular. Exausto e abatido.
          Forçou a memória e as lembranças vieram...

 

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Mais um trecho! Vem aí "Olhos de Lobo"...


      Um uivo. Podia jurar que ouvira um uivo.

    Foi seguindo o eco do som pelas ruas desertas até que viu dois olhos brilharem nos escombros de um pub destruído. Farejou o ar. Não possuía os sentidos aguçados do lobo na lua crescente, mas seus instintos encontravam-se em alerta e ele tinha certeza de que não estava diante de um cão, muito menos de um lobo comum. Mas... poderia ser um lobisomem, sem o estímulo do luar?


    Sim. O cheiro de um licantropo era inconfundível. Era seu próprio odor, quando a Lua o escravizava.


    Andou na direção do animal enquanto pegava a arma no bolso do casaco. E viu...

    Viu a criatura erguer-se sobre dois pés, mal iluminada pelo reflexo do crescente nas nuvens.

    - William? - conseguiu dizer, erguendo o revólver que carregara com balas de prata.


    O animal, que agora era um homem, estava nu, andava sobre a neve e não parecia sentir frio. Voltou os olhos brilhantes para o recém-chegado e o fitou como se o reconhecesse.


    - Hector - murmurou, com um sorriso que transmitia ferocidade.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Terceiro trecho INÉDITO de Olhos de Lobo...



        - Eu juro que vi! - dizia um menino.
       - Conta de novo, para os investigadores, o que você acha que viu - incentivou o soldado.
       A mulher se meteu:
       - Meu filho está dizendo bobagens, essas crianças têm imaginação demais.
        - Não se preocupe, senhora, agradecemos qualquer informação - a agente tranquilizou-a. - Nunca se sabe o que pode ajudar numa investigação. Fale sem medo. O que você viu?
        E a moça sentiu o coração gelar quando o garoto começou a falar.
        - Um lobo. Eu juro, eu vi um lobo!
        Rodrigo sorriu com desdém e a mãe bufou, mas Natália o encarou com seriedade.
        - Certo. E onde estava esse lobo?
        - Bem aqui, perto da guia. A gente mora naquele prédio. Eu levantei de madrugada pra beber água. Era mais de meia-noite e nem sei por que olhei pela janela da sala, mas olhei, e dava pra enxergar bem. O lobo veio andando debaixo da lâmpada da rua.
        - De onde ele veio? - a investigadora indagou.
        - De lá - o adolescente indicou a Rua Mauá, que margeava o cais. - Nunca vi um bicho tão grande na minha vida! Aí ele parou perto da moça caída, ficou lá um tempo. Eu queria ir chamar a mãe... só que não tive coragem de parar de olhar. Então, ele uivou.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Mais um trecho INÉDITO de "Olhos de Lobo"



          
          - Boa tarde, Frau Hundmann - disse o jovem anfitrião, formal. - Se estiver disposta, nós gostaríamos de ouvir a história que mencionou ontem. Especialmente este meu amigo; ele e o irmão têm registrado muitos contos do nosso povo.

         A mulher cravou os olhos em Wilhelm. Com 24 anos, ele era o mais velho dos hóspedes de August Von Haxthausen naquele fim de semana; apesar disso, parecia intimidado.

          - Como se chama, jungling? - perguntou ela, num sorriso sem alegria, ao baixar o bordado e ajeitar sobre a cabeça um estranho capuz de veludo vermelho.

          - Wilhelm Grimm, meine Frau.

          - Pois então, Herr Grimm, ouça minha história: é inteiramente verdadeira. Es war einmal, era uma vez - sua voz ecoou na sala silenciosa - uma senhora que vivia em uma casa junto à mata, sob três grandes carvalhos...

          Apesar de ela aparentemente fitar seu primo, Erich teve a impressão de que seus olhos, que emitiam um brilho esquisito, não o largaram mais.

          "Estou imaginando coisas", pensou o rapaz. Talvez aquilo fosse apenas um reflexo fugidio do sol que brilhava lá fora, intrometendo-se por alguma brecha da janela.
             Ou não...